Cirurgia bariátrica reduz riscos para o câncer de mama
São Paulo 28/10/2021 –
A obesidade é um fator de risco bastante conhecido para a maioria das doenças, no entanto, sua associação com os diferentes tipos de câncer, sobretudo com o de mama, ainda é incerta. Uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, revelou que o excesso de peso é um dos responsáveis pelo desenvolvimento e menor probabilidade de cura desse tipo de câncer, podendo diminuir em 11% as chances de sobrevida da paciente.
Por outro lado, pesquisas apontam que mulheres que se submetem a procedimentos para o tratamento da obesidade, como a cirurgia bariátrica, têm menor probabilidade de desenvolverem a doença. Um interessante estudo, cujos resultados foram publicados na edição de maio da revista Gynecologic Oncology, mostrou que a cirurgia está associada ao risco reduzido de tumores específicos como o câncer de mama. A análise envolveu 1.420 mulheres que se submeteram à cirurgia bariátrica, e 1.447 que receberam tratamento padrão para a obesidade.
Segundo a cirurgiã bariátrica do Instituto de Medicina Sallet, Ana Caroline Fontinele, a obesidade e sobrepeso estão relacionados a um processo inflamatório crônico e, ao passar pelo tratamento cirúrgico e atingir um peso ideal, o paciente elimina um importante fator de risco. “A cirurgia atua na fisiopatologia da obesidade. Assim, além de ter o controle de peso e de comorbidades, teoricamente a paciente também tem riscos reduzidos para o câncer de mama”, explica.
Fator de Risco
Assim como outros tipos de tumor, o câncer de mama pode surgir por várias causas, sejam de natureza genética e hereditária, história reprodutiva ou ambientais e comportamentais. Conforme a médica-cirurgiã, a obesidade pertence ao terceiro grupo de fatores ao lado de condições, como inatividade física, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, exposição frequente a radiação e ionizantes, entre outras.
Segundo Fernanda Barbosa, mastologista do Instituto do Câncer do Estado de São (ICESP), como mencionado, o excesso de peso está relacionado a uma pior qualidade de vida e isso interfere em todas as doenças, principalmente, no câncer de mama. “A obesidade é um dos piores fatores, porque o câncer de mama é um hormônio dependente. Assim, a pessoa obesa tem um nível de estrogênio (hormônio feminino) circulante maior, o que pode induzir a multiplicação de células cancerígenas nessa região”, explica.
Tratamento Multidisciplinar
Enquanto uma condição que pode agravar o estado do câncer de mama, a obesidade precisa ser considerada no tratamento oncológico. Segundo a médica mastologista, além de diminuir a eficácia das terapias, o excesso de peso aumenta as chances de recidiva, ou seja, de retorno do tumor. Dessa forma, pontua que o paciente que atende a esse perfil precisa procurar a ajuda de uma equipe multidisciplinar. “Não se trata apenas de intervenção com quimioterapia ou remédios. A prevenção e tratamento da obesidade também precisa ser um pilar”, alerta.
Dentre as possíveis abordagens para o tratamento da obesidade, a cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia da obesidade, se destaca pela eficácia e durabilidade nesse processo. A respeito dos benefícios no tocante ao câncer de mama, cientistas da universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, descobriram que a cirurgia proporcionou uma redução de 40% dos cânceres em pacientes operados em comparação aos pacientes que continuaram obesos. Em relação ao câncer de mama pós-menopausa, o resultado foi 52% menor entre os candidatos cirúrgicos.
Conforme Ana Caroline Fontinele, independentemente da abordagem a ser utilizada, o importante é alcançar o emagrecimento saudável. “O ideal é que esse paciente oncológico atinja um Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo de 25 e mantenha um controle de peso a longo prazo. Apesar de não impedir o aparecimento de um tumor e nem ser o tratamento efetivo para a neoplasia mamária, a perda de peso pode contribuir para uma melhor resposta ao tratamento”, explica.
Formas de Prevenção
Segundo a mastologista do ICESP, existem duas formas de prevenir o câncer de mama. A segunda, chamada de prevenção secundária, é a mais propagada e envolve a realização de mamografia de rastreamento anual a partir dos 40 anos. Já a primeira, nomeada de prevenção primária, é a menos conhecida, porém tão importante quanto, conforme relata a especialista.
“A prevenção primária envolve a adoção de hábitos saudáveis. Sabemos que a obesidade, má alimentação, uso abusivo de álcool, entre outros hábitos prejudiciais à saúde estão relacionados a maior incidência de câncer de mama. Diversos estudos provam essa correlação. Portanto, a correção desses hábitos desde cedo é importante para o combate do câncer de mama no futuro”, alerta.
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