Inflação de combustíveis domina debate político-eleitoral e juros preocupam
SP 12/7/2022 – A inflação de combustíveis continuou no centro do palco, trazendo preocupações para o governo e podendo se tornar o grande vilão para o projeto de reeleição
No Brasil, o avanço do preço dos combustíveis ameaça chance de reeleição do presidente. Já EUA e China, as duas maiores economias mundiais, dão sinais de preocupação
No mês de maio, houve notícias positivas de dois dos três grandes temas globais que têm marcado o ano de 2022. “O Banco Central americano (Fed) fez um leve deslocamento retórico em uma direção mais dove, ou seja, menos agressivo no ciclo de aperto monetário. A China, segundo grande foco do ano, finalmente começou a liberação do lockdown das cidades de Shanghai e Beijing. No Brasil, a inflação de combustíveis continuou no centro do palco, trazendo preocupações para o governo e podendo se tornar o grande vilão para o projeto de reeleição do presidente Bolsonaro”, diz o economista Felipe Bernardi Capistrano Diniz.
O Fed, desde a última reunião do comitê de política monetária, vem trazendo sinais de que pretende ser menos agressivo do que se imaginava. Na entrevista coletiva após a reunião, o presidente da autarquia, Jerome Powell, deixou subentendido o plano de subir os juros em 0,5% por mais 2 reuniões e depois voltar para o ritmo de 0,25% nas reuniões subsequentes. Dias depois, alguns membros do Fed também deram discursos mais suaves, mencionando a chance do Fed dar uma pausa em setembro, e outros falando que a ideia inicial é levar os juros apenas para a taxa de juros neutra (2,5%) e depois avaliar se será necessário ir adiante. Powell teve sucesso na coordenação do mercado em relação ao seu plano de voo, e hoje a grande maioria dos agentes de mercado projeta e precifica exatamente isso: taxa de juros terminando o ano em 2,5%. Felipe Bernardi Diniz diz estar cético quanto a isso. “Penso que a inflação americana contém alguns itens resilientes (como setor de serviços e setor imobiliário) que só devem ceder com os juros no terreno contracionista, em torno de 3,5 a 4%.”
Na China, com a queda de contaminação em Shanghai e Beijing, o governo começou a reduzir o lockdown. Isso aliviou as preocupações sobre o crescimento chinês em 2022. Já há um sentimento que podemos ter uma primeira decepção mais significativa com o PIB este ano, com algumas casas já projetando 4%, ao invés dos 5% almejados pelo governo. “Um risco importante que vislumbramos com essa política de Covid zero do governo chinês é que empresas globais tenham mais receio de se estabelecer na China, pela incerteza de quando o país pode fechar novamente. Já começamos a ver algum movimento nesse sentido com deslocamento de produção de iPad por parte da Apple”.
“No Brasil, o avanço do preço dos combustíveis acarretou nova demissão do presidente da Petrobras, levando o governo e o Congresso a discutirem alternativas para controlar os preços dos combustíveis que pode ameaçar, inclusive, a chance de reeleição por parte do presidente”, alerta Felipe Bernardi Capistrano Diniz. A principal medida, já aprovada na Câmara, é um teto de 17% do ICMS sobre alguns bens, que passariam a ser essenciais e, portanto, teriam o preço caindo “na marra”. O projeto ainda está sendo discutido no Senado, mas já estão surgindo outras ideias como a zeragem dos impostos federais (PIS/Cofins, Cide) e do ICMS sobre os combustíveis, com a União compensando a perda de arrecadação dos Estados a partir de receitas extras que não estavam no orçamento, advindos da Petrobras e da Eletrobras.
No campo eleitoral, Bolsonaro, que fechou parte da desvantagem em relação ao Lula em abril, estacionou em maio. Uma interpretação é que no mês passado ele só tinha obtido os votos pela desistência do Moro. Uma segunda é que a inflação começou a incomodar e o eleitorado menos ideológico começou a se afastar do incumbente. De qualquer forma, acredita Diniz, julho é o mês em que a eleição começa a tomar forma e qualquer especulação prévia é quase fútil.
Felipe Bernardi Diniz também diz observar uma desaceleração na elevação da curva de juros americana, com o vértice de 10 anos oscilando no intervalo entre 2,7% e 3,2%. Ainda que o nível de volatilidade tenha se reduzido e as bolsas se recuperado na segunda quinzena do mês, a elevação gradual da retirada de liquidez do mercado, oriunda da redução do balanço do Fed, segue sendo um risco importante para os ativos que tenham maior duration, conclui.