Derrota de Morando nas eleições de 2024 foi muito além das urnas
Passado um mês das eleições municipais deste ano, o balanço deixa ainda mais claro que no ABC houve um grande derrotado: o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando. Diferente de seus coletas de Santo André, Paulo Serra, e São Caetano, José Auricchio Jr, não conseguiu eleger sua candidata, que ficou em quarto lugar em uma disputa com cinco candidatos. Mas esta foi a menor das derrotas.
Ao apostar todas suas fichas em uma pesquisa que apontava que mais da metade da população de S.Bernardo apoiava seu governo, Morando tentou transformar sua sobrinha Flávia Morando em política experiente em poucos meses. A melhor qualificação dela seria o fato de ter ocupado o cargo de administradora da rede de supermercados Morando, cargo que foi do prefeito antes de ser eleito, há oito anos.
Mas, diferente do tio, Flávia não tinha a desenvoltura para se transformar em política e, na maioria das vezes, parecia um Orlando de saia e deixava claro que não tinha opinião, apenas seguia a cartilha do prefeito. A população percebeu e nem levou a candidata ao segundo turno, dando a primeira derrota.
A segunda e até mais impactante para Morando, é o fato de Flávia ter ficado atrás do candidato do PT, Luiz Fernando Teixeira, que ocupou a terceira posição. Para um bolsonarista que, ao lado da mulher e deputada estadual Carla Morando, já fez até arminha ao lado do ex-presidente, foi uma lapada e tanto. Durante a campanha, o prefeito de São Bernardo pediu inúmeras vezes para que o eleitor fizesse uma comparação entre a administração dele e a do PT. Pelo visto, a escolhida como melhor foi a de Luiz Marinho, que também ficou oito anos na Prefeitura.
E ainda tem mais. Sendo prefeito, a deputada e primeira-dama Carla Morando foi, e ainda é, presença garantida em praticamente todas as inaugurações de obras e praças (e olha que teve muita), como a parlamentar que mais destinava as emendas mais importantes e polpudas para a cidade. Sim, nenhum outro deputado, estadual ou federal, teve o nome citado com tanta paixão por Morando como Carla. Porém, muitas emendas e verbas chegaram de outros deputados, que nem lembradas pelo prefeito foram. Bem, sem a Flávia prefeita, a deputada perdeu o que poderia ser seu principal palanque para as eleições de 2026, quando Carla deve tentar se reeleger pela terceira vez.
A alternativa para conseguir um palanque foi apoiar o então candidato e agora prefeito eleito, Marcelo Lima. Por ironia do destino, Lima foi vice-prefeito de Morando, que assim que conseguiu passou a ignorar o político e sequer cogitou em lançar (o que seria natural) como o candidato da administração. Sem Lima, a atual primeira-dama deputada perderia o principal palanque para 2026. O que sabe Morando também, caso deseje disputar uma vaga de deputado federal
Mas a maior derrota foi em relação ao ABC. Ao deixar o Consórcio Intermunicipal e ‘brigar’ com o prefeito de Santo André, Paulo Serra, Morando se isolou do ABC. A arrogância fez com ele já se sentisse garantido por conta da aprovação de seu governo. Morando poderá nem ter palanque nas demais cidades do ABC em 2026.
Como uma última tentativa de ter um palanque para a possível candidatura dele e de Carla, Morando apoiou o candidato Taka Yamauchi em Diadema. Para a sorte dele, Taka venceu e o prefeito de São Bernardo deve garantir algumas vagas para seus indicados. O primeiro já foi, o secretário de finanças José Luiz Gavinelli, ocupará a mesma cadeira na cidade vizinha em 2026.
Como político, Morando sabe que sem palanque dificilmente conseguirá retornar ou colocar alguém do seu grupo na próxima eleição. Se houver reeleição então, restará ao político do Batistini manter cargos legislativos. O que será o futuro ex-prefeito de São Bernardo ainda é cedo para apostar, os próximos anos serão cruciais para que seu clã permaneça como influente na política ou caia de vez no ostracismo. Restará também voltar a ser o papagaio de pirata do governador que, para sorte de Morando, é de direita.
As derrotas foram todas plantadas pelo próprio Morando. Ao dominar até a comunicação da cidade, não deixando secretários terem voz e nem a assessoria tirar o nome do prefeito de todos os releases enviados. Sim, para a secretária de Comunicação de São Bernardo, Thaís Santiago, Morando é quem faz tudo na prefeitura. Mas não é bem assim. E agora vamos aguardar os próximos capítulos.
Foto: Divulgação