Marcelo Lima quer zerar impostos da Volks para gerar empregos. Elevadores Otis conseguiu ICMS menor para ficar em S.Bernardo
No fim dos anos de 1990 e início dos 2000, um tema tomou conta da economia do Brasil, a guerra fiscal. O ABC foi uma das regiões afetadas e viu empresas deixarem e ameaçarem sair em busca de impostos mais baixos. O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o ISS (Imposto sobre Serviço) e o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) poderiam ficar menores e permitir rentabilidade maior nos negócios.
Em São Bernardo, duas histórias foram motivadas pela guerra fiscal entre os Estados e tiveram finais diferentes. Em 2000, a Elevadores Otis, obteve convite para trocar a cidade por Palmeira, no Paraná. A cidade ofereceu um galpão, em péssimas condições, e, lógico, atrativos fiscais. Porém, a distância de 350 km para o porto mais próximo seria um entrave a ser discutido. Para manter a produção e, principalmente, os empregos em São Bernardo, Prefeitura e Estado entraram na negociação.
A Elevadores Otis e todo o setor de elevadores do Estado de São Paulo, conseguiu reduzir de 18% para 12% o ICMS. Na época, o Governo estadual estava nas mãos do governador Mário Covas, que aceitou negociar e conseguiu segurar a empresa no ABC. A Prefeitura também ofereceu redução no ISS e IPTU.
No ano seguinte, a Multibrás, detentora da Brastemp, anunciou a saída da cidade por conta dos custos elevados. A empresa tinha fábrica em Santa Catarina, que já produzia linha similar, mas com custos mais baixos. Mais de um mês de negociações, entre a empresa, Prefeitura, Governo do Estado e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para evitar que mais de 1 mil funcionários fossem desligados. Desta vez, por ser uma ordem da matriz, na Alemanha, não houve acordo e a empresa encerrou as atividades em São Bernardo. A fábrica ocupava a área onde hoje é o shopping São Bernardo Plaza.
Em 2019, mesmo com negociações e conversas, a Ford deixou a cidade e em seguida o país. São Bernardo também perdeu unidades da Toyota, da Max Mangels e da Panex, entre outras.
Neste domingo, 09 de fevereiro, o atual prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima, afirmou buscar zerar os impostos da Volkswagen para que a empresa abra o terceiro turno na planta da Anchieta e não em São José dos Pinhais, no Paraná, como informações ainda não oficiais dão conta que deve ocorrer. “Nós vamos criar o terceiro turno em São Bernardo. Não vou admitir (que seja no Paraná). Se eu tiver que zerar o imposto da Volkswagen, eu vou zerar. Porque eu quero apoio do governo do Estado e do governo federal”, afirmou. O objetivo é diferente, mas também nobre e importante, já que nos últimos oito anos, a rede do morador da cidade caiu, principalmente pela maior parte dos empregos se darem nos setores de comércio e serviços e bem menos nas indústrias.
Marcelo tem se mostrado aberto para negociar com Estado e governo Federal e busca não deixar outras indústrias deixarem o município. Em entrevista exclusiva ao Portal Eagle News, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rafael Demarchi, afirmou que o objetivo é segurar as indústrias da cidade e buscar novos setores e novas empresas. “Vamos negociar com o empresário, ver o que eles precisam e tentar ajudar da melhor forma”, ressaltou.
Se depender da vontade e dos personagens envolvidos, há, com certeza, muita experiência para a negociação. Durante a questão da Otis, o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade era Fernando Longo, que hoje ocupa a pasta de Serviços Urbanos. Luiz Marinho, na ocasião, era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e hoje é ministro do Trabalho. Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente da República, era vice-governador, mas também se envolveu nas negociações.
Cabe agora buscar entender o que as indústrias precisam para manter as atividades em São Bernardo e evitar mais fugas para outras cidades e Estados.
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