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O fracasso da política pública de animais de São Bernardo

Quem viu um animal em estado de abandono ou em má situação de saúde e tentou ajudar? Se não colocou a mão no bolso e pagou, com certeza não conseguiu. Depender dos órgãos públicos de São Bernardo quando o problema é com um animal doente ou  abandonado é passar raiva. Triste realidade. Cabe a quem achou cuidar e tentar encontrar um adotante. E a tarefa não é fácil.

Há cerca de dois anos, uma gatinha de cerca de 20 dias caiu no meu quintal de uma altura de mais um menos 3 metros. Com o nariz sangrando corremos ao veterinário, que a medicou. Ela se salvou e acabou sendo adotada por nós. Quase um ano depois, novamente meu quintal foi alvo de filhotes de gatos, desta vez mais quatro, sendo um a cada dois dias.

Alguém jogou? A gata mãe deixou cair? Não sabemos. O fato é que destes quatro, dois foram adotados por amigos, sendo um deles com o narizinho quebrado, e outras duas ficaram conosco, mesmo sem condições para receber os novos familiares, aceitamos.  

A cada um que chegava, a consternação aumentava. Desde a primeira, pedimos ajuda aos órgãos públicos, como Centro de Controle de Zoonoses, que deveria recolher animais em situação de perigo, à Delegacia contra maus tratos animais, que não descobri para que serve. Não ficaram de fora nem os Bombeiros, que também não podiam fazer nada, a CGM (Guarda Civil Municipal), e diversas ONGs, que sequer atenderam às ligações. Ah, um famoso delegado que é deputado também foi acionado, mas sequer respondeu às mensagens, mesmo com negativas, pois não seria transmitido por emissoras de tv ou por influenciadores famosos. Ah, esqueci, a primeira-dama, que é deputada estadual, também ficou sabendo por mim, da chuva de gatos.

Como abandonar não era uma alternativa para minha família, além de ser crime, ficamos com mais alguns e hoje temos 4 gatos, todos que, literalmente, caíram dos céus. Ajuda conseguimos  apenas do veterinário e dos amigos que adoram dois filhotes.

A administração municipal foi acionada e questionada sobre fiscalização de denúncias sobre abandono. O terreno por onde há a suspeita de os animais estarem sendo abandonados é privado, mas poderia ser fiscalizado pela Prefeitura, o que não foi. A castração de um deles foi feita com a ajuda de um amigo que conseguiu uma vaga no serviço municipal, a única. O resultado só não pior porque corremos a tempo de salvar o pequeno.  O gato saiu sem orientação sobre medicação e enrolado em gases, parecendo uma múmia e prostrado. Por sorte e após a corrida a um veterinário particular, foi salvo. 

Até agora não descobri como denunciar situações de animais abandonados ou em risco em São Bernardo. Para a Prefeitura, nada adianta. Delegacia, menos ainda. Alguns protetores e ONGs, também não sei porquê existem. Estes fazem campanhas, mas exibem nas redes sociais seus animais de raça. Hoje me sinto muito mais protetora do que eles que levam o título e as verbas. 

Ah, mas conseguimos, finalmente, após seis gatos e dois anos depois, uma trégua. Há cerca de 20 dias, um vizinho preocupado com uma gata com os filhotes que novamente estavam no mesmo terreno, passando frito e tomando chuva, chamou uma ONG. Esta organização cobrou R$ 250 e retirou a mãe e os filhotes. A promessa era de que a gata seria castrada e todos iriam para  adoção, o que espero seja verdade.

A falta de política pública para animais em São Bernardo pode ser confirmada pelo Hospital Municipal Veterinário. O local, que fugiu completamente do projeto original, foi “adaptado”  em um galpão. Hospital, hospital não é bem o termo certo. Com 20 atendimentos por dia para moradores inscritos no CAD Único (correto), atende de segunda às sextas-feiras das 8h às 17h, deveria ser chamado de uma clínica pública.  Detalhe, não há internação e nem atendimento aos finais de semana. 

 

Fotos: Arquivo pessoal

 

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